sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Crimes, Drogas

Abro o jornal na página policial e mais uma vez a chamada da reportagem é para um crime cometido por adolescente. Embora o assunto não seja estranho, algo incomoda mais do que o habitual. Novamente aquela insistente repetição: adolescentes drogados cometem crime. E os adolescentes não drogados que cometem crime? As estatísticas parecem servir de estofo para alimentar essa série imaginária: crimes, drogas, adolescentes e a lei. A última pesquisa a que tive acesso referia que 80% dos adolescentes privados de liberdade tinham feito uso de drogas lícitas e/ou ilícitas. Como não ficar aturdido com esses números e logo pensar que a chave dessa série seria a droga?
Circula no imaginário social a idéia de que há um laço, ou melhor dizendo, um nó, entre crime e drogas. Imaginado que índice sobre todas as instituições que lidam com adolescentes. A ponto de que qualquer modificação do comportamento corre o risco de ser interpretada como sintomática do uso. Aqui se coloca outra especificidade, que não será abordada, embora fundamental: a distinção entre uso, abuso e dependência.
Bem, que um adolescente tenha cometido um crime e depois saibamos que ele fez ou faz uso de drogas não seria o problema, se a droga não fosse tomada como causa unívoca e inequívoca da transgressão. Mas o raciocínio avança: se o adolescente que cometeu crime estava sob efeito de droga, logo todo adolescente envolvido com droga corre o risco de cometer crime. Então, resultado da equação: a droga é a culpada, quando não a autora.
No contexto das instituições que lidam com o adolescente, o objeto droga ocupa, como no imaginário social, o centro da cena e o lugar de personagem principal; assim, desloca o sujeito ao papel de coadjuvante.

Fonte: texto de Marcia Helena de Menezes Ribeiro - Psocóloga; Especialista em Psicologia Juridica; Psicanalista.

PARCERIA SEMPRE

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